domingo, 28 de outubro de 2007

Como se pode posicionar um nutricionista que comunica sobre ciência?

O Nutricionista é um profissional de saúde que visa a promoção da saúde, a prevenção e o tratamento da doença, intervindo na adequação, qualidade e segurança alimentar. É um elemento-chave sempre que adaptações alimentares ajudem a melhorar a qualidade de vida do indivíduo; e, para isso, ele ensina, investiga, vigia, orienta e aconselha. É dever do Nutricionista comunicar dados nutricionais, resultantes da sua própria investigação, ou de outros, certificando-se que a mensagem é transmitida de forma clara, concisa e adaptada ao público-alvo.
Na Indústria Alimentar, cabe ao Nutricionista fazer a ponte entre a investigação científica, a inovação de produtos e o marketing social relacionado com a alimentação. As informações que o Nutricionista desenvolve para apoiar a promoção de um produto no mercado (páginas de publicidade, spots publicitários, brochuras) devem focalizar-se nos benefícios nutricionais, ainda que tenha de ter em conta interesses económicos e políticos.

Por vezes, o Nutricionista depara-se com situações controversas que dificultam a elaboração do seu discurso, para não “enganar” o consumidor nem ir contra os interesses da empresa para quem trabalha. Como exemplo refere-se o enriquecimento do leite industrializado com ómega-3, que visa compensar a baixa concentração deste composto funcional. O Nutricionista sabe que, para que sejam obtidos os efeitos benéficos mencionados no rótulo, o consumidor terá de consumir uma grande quantidade de produto, sendo mais fácil e vantajoso que o consumidor continuasse a consumir leite convencional e aumentasse o consumo de peixe na alimentação.

Existem vários temas controversos e dúbios no que concerne à Nutrição, tendo muitas vezes o Nutricionista que comunicar sobre esses assuntos. O segredo poderá estar numa comunicação clara e concisa, realçando os benefícios de uma alimentação variada e da prática do exercício físico.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Necessidade de comunicar sobre o que comemos

O que devemos/podemos comer?
Como preparar os alimentos? Que quantidades ingerir, quando, como, onde?
São inúmeros os comunicados no âmbito da ingestão alimentar – talvez porque a sobrevivência da espécie humana depende, em grande parte, de uma alimentação equilibrada e a comunicação é um veículo importantíssimo na promoção da saúde e prevenção da doença no seio de uma sociedade.
Desde sempre, o Homem teve noção da importância da alimentação para a sua sobrevivência, e, por isso, passou a comunicar os malefícios e benefícios para a sua saúde da ingestão de determinado alimento. Inicialmente, o conhecimento transmitido era muito empírico e a via era o discurso oral. Mas, desde muito cedo, houve a necessidade de organizar a informação em regras e/ou condutas, adaptá-la às necessidades políticas, económicas, ambientais e religiosas do momento, com vista a facilitar a sua transmissão de geração em geração. O crescimento demográfico, o intercâmbio de informações entre diferentes grupos populacionais e o surgimento de estudos científicos no âmbito da Nutrição e da Saúde constituem alguns dos factores que levaram a que se recorresse também, e cada vez mais, à linguagem escrita e visual. (http://www.formasluso.pt/)

Comunicar sobre alimentação é, sem dúvida, positivo, se a comunicação visar a formação e não a manipulação do consumidor. Actualmente, verifica-se ser urgente que o consumidor mantenha uma postura crítica perante toda a informação transmitida, vendo sempre a alimentação como um meio capaz de promover simultaneamente o seu bem-estar físico e psíquico.

Comunicar através da corrente estruturalista ou funcionalista?

O marketing promocional em Nutrição tem aumentado muito nas últimas décadas, sendo utilizados diversos meios e linguagens para atingir o objectivo final: desencadear a compra por parte do consumidor, após despertar a curiosidade, o interesse e a necessidade de aquisição do produto.
A linguagem utilizada no marketing nutricional varia consoante o produto que é publicitado, o público-alvo, o meio de comunicação usado e os objectivos da comunicação, podendo ser diferenciada em 2 correntes:

A. Estruturalista
As estratégias de marketing utilizadas para suscitar a compra ou a adopção de determinado comportamento alimentar não se baseiam nas características nutricionais do alimento ou nutriente publicitado. As regras e os comportamentos alimentares são estabelecidos com base em aspectos culturais e sociais (relevando o glamour, posição social ou estilo de vida), pela participação num evento ou concurso (jogos desportivos, passatempos), realçando a obtenção de prazer (destacando características sensoriais, como o sabor e o aroma). Portanto, este tipo de comunicação não é sustentado por noções nutricionais, mas por alegações meramente lúdicas.
Um exemplo deste tipo de corrente de comunicação é a publicidade da marca OLÁ aos gelados Magnum, em que quer a imagem quer a linguagem realçam características sensoriais, alegando o “prazer extremo” que é proporcionado pela ingestão do produto.


B. Funcionalista
Publicita o consumo de determinado alimento ou ingrediente apelando para o benefício nutricional da sua ingestão. Tem como objectivo fazer com que os consumidores acreditem que o consumo daquele produto tem benefícios para a saúde, além das vantagens nutricionais inerentes. Consequentemente, o benefício nutricional que advém da adopção de determinado hábito alimentar vai resultar na criação de regras e de comportamentos alimentares, que visam a saúde e o bem-estar.
Por exemplo, a marca NOBRE Naturíssimos publicita na embalagem das salsichas de Perú que têm teor de sal e colesterol reduzido, alegando assim que foram concebidas para uma alimentação saudável e equilibrada.

Provavelmente, a forma mais eficaz de comunicar consiste na associação das duas correntes, numa interacção dinâmica: a estruturalista, para uma maior visibilidade, e a funcionalista, para uma maior credibilidade. Mas, sem dúvida que o objectivo primordial na comunicação em Nutrição deveria ser sempre a promoção da saúde do consumidor.

O que são alimentos funcionais?

A importância de uma alimentação equilibrada na manutenção da saúde e do bem-estar tem sido alvo de estudo pela comunidade científica, com vista a comprovar a acção de determinados alimentos na prevenção e/ou no tratamento de diversas doenças. Foi no Japão, na década de 80, que começaram a ser estudados alimentos que, além de satisfazerem as necessidades nutricionais básicas, desempenhavam efeitos metabólicos e fisiológicos benéficos, devido à presença de um ou mais nutrientes que melhoravam o crescimento, desenvolvimento, manutenção e outras funções do organismo humano. Em 1991, foi desenvolvida e regulamentada uma nova categoria de alimentos, que recebeu a denominação de “Food for Specified Health Use” – em Português, Alimentos Funcionais.


Para um alimento ou ingrediente poder alegar ter funções funcionais e ser comercializado, tem de comprovar a sua eficácia na promoção da saúde e a segurança no seu consumo sem supervisão médica. As alegações podem fazer referência à manutenção da saúde em geral, à redução do risco de determinadas patologias, mas não à cura dessas doenças. As propriedades benéficas dos alimentos funcionais podem ser provenientes dos constituintes naturais desses alimentos (como, por exemplo, as fibras e os antioxidantes presentes nas frutas) ou resultar da adição industrial de determinados ingredientes/compostos para enriquecer os alimentos na sua forma original (como, por exemplo, cereais do pequeno-almoço ricos em fibra).